Talentismo: opressão ou privilégio? Um olhar para as Altas Habilidades e outras Neurodiversidades
Publicado Dez 03, 2023
Filipe Albuquerque Ito Russo
Universidade de São Paulo
Luana de Melo Ribas
Universidade de Brasília
luanaribas.psicologia@gmail.com
RESUMO
É possível observar um aumento significativo do olhar para a neurodiversidade como movimento histórico e cultural que, não só ganha espaço enquanto comunidade ativa como também impulsiona a luta contra o capacitismo – seja quando manifesto na desvalorização velada, seja na opressão e intolerância escancarada. No que diz respeito às Altas Habilidades, frisa-se as demandas por uma melhor compreensão acerca do tema, especialmente ao se debater sobre o talento como sua característica basilar. Afinal, ter ou não ter talento é critério para Altas Habilidades ou faz parte das neurodiversidades existentes, e ganha destaque em algumas condições de forma mais específica? Eis a questão. A partir de um Estudo Teórico, esse artigo tem como objetivo geral analisar o que se compreende por talento de acordo com a literatura e quais as limitações e potencialidades do conceito de talento nas Altas Habilidades e em outras neurodiversidades. Os objetivos específicos são: a) levantar as contribuições e impactos sociais que existem acerca do tema; b) investigar as confluências entre o TEA, TDAH e AH/SD no que diz respeito ao talento; e c) desmistificar conceitos enrijecidos na sociedade como definitivos das Altas Habilidades. Após o levantamento teórico, propomos o distanciamento do talento em sua forma reificada e centralizadora como característica única e fundacional das AH/SD, prática que definimos como talentismo. Por fim, defendemos a diversidade humana e a possibilidade de desenvolvimento a partir do social e cultural, sendo o talento possível a qualquer neurodiversidade.
Palavras-chave: Neurodiversidade; Talento; AH/SD; TEA; TDAH.
Como citar
Russo, F. A. I. e Ribas L. de M. (2023). Talentismo: Opressão ou Privilégio? Um olhar para as Altas Habilidades e outras Neurodiversidades. Revista Neurodiversidade, 4(1), 1-30.
Edição
V. 4, n. 1 (2023): Revista Neurodiversidade (ISSN 2764-5622)
Copyright ©
Todos os direitos reservados
A revista detém os direitos autorais exclusivos de publicação deste artigo nos termos da lei 9610/98.
A reprodução total é expressamente proibida.
A reprodução parcial é permitida sendo obrigatória a citação dos autores e da revista.
REFERÊNCIAS
Abreu, T. (2022). O que é neurodiversidade?. Cânone Editoração Ltda.
American Psychiatric Association. (2014). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (5ª ed.). Artmed.
Barbosa, L. (2017). O Estado como produtor da deficiência : Desafios biopolíticos e democráticos para a construção do modelo único de avaliação da deficiência. In 13 Congresso Mundos de Mulheres, Florianópolis, Santa Catarina. p. 1–10.
Beckmann, J. e Kossak, T. (2018). Motivation and Volition in Sports. In J. Heckhausen e H. Heckhausen (orgs.), Motivation and Action. Springer. https://doi.org/10.1007/978-3-319-65094-4.
Beckmann, J. e Heckhausen, H. (2018). Motivation as a Function of Expectancy and Incentive. In J. Heckhausen e H. Heckhausen (orgs.), Motivation and Action. Springer. https://doi.org/10.1007/978-3-319-65094-4.
Beyer, H. O. (2006). Da integração escolar à educação inclusiva: implicações pedagógicas. Inclusão e escolarização: múltiplas perspectivas. Porto Alegre: Mediação, p. 73-81,
Beyer, H. O. (2013). Inclusão e avaliação na escola: de alunos com necessidades especiais. 4 ed. Porto Alegre: Mediação.
Borland, J. H. (2021). The Trouble with Conceptions of Giftedness. In R. J. Sternberg e D. Ambrose (orgs.), Conceptions of Giftedness and Talent. Palgrave Macmillan. https://doi.org/10.1007/978-3-030-56869-6.
Brandstätter, V. e Hennecke, M. (2018). Goals. In J. Heckhausen e H. Heckhausen (orgs.), Motivation and Action. Springer. https://doi.org/10.1007/978-3-319-65094-4.
Brasil. (2015). Lei 13.146, de 06 de julho de 2015. Lei Brasileira de Inclusão. Brasília.
Brasil. (2010). Marco políticos-legais da educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Secretaria da Educação Especial, Ministério da Educação.
Brasil. (2008). Ministério da Educação. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. MEC/SEESP. Brasília, DF, http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf.
Brunstein, J. C. e Heckhausen, H. (2018). Achievement Motivation. In J. Heckhausen e H. Heckhausen (orgs.), Motivation and Action. Springer. https://doi.org/10.1007/978-3-319-65094-4.
Cardoso, A. N. da S.; Pimentel, F. S. C.; Rocha, J. S. A. da; Silva, A. P. da e Silva Júnior, L. C. F. da. (2021). A relação entre jogos digitais e TDAH: um mapeamento sistemático dos estudos nas línguas portuguesa e espanhola. In Trilha De Educação – Artigos Completos - Simpósio Brasileiro de Jogos e Entretenimento Digital (SBGames), 20., Online. Porto Alegre: Sociedade Brasileira de Computação. p. 354-362. https://doi.org/10.5753/sbgames_estendido.2021.19667.
Dai, D. Y. (2021). Evolving Complexity Theory (ECT) of Talent Development: A New Vision for Gifted and Talented Education. In R. J. Sternberg e D. Ambrose (orgs.), Conceptions of Giftedness and Talent. Palgrave Macmillan. https://doi.org/10.1007/978-3-030-56869-6.
Dai, D. Y. e Chen, Fei. (2014). Paradigms of Gifted Education – A guide to theory-based, practice-focused research. Prufrock Press. https://doi.org/10.4324/9781003236986.
Davidson, J. E. (2009). Contemporary Models of Giftedness. In L. V. Shavinina (org.), International Handbook on Giftedness. Springer. https://doi.org/10.1007/978-1-4020-6162-2.
Diniz, D. (2012). O que é deficiência. 2a Reimpressão. São Paulo: Brasiliense.
Filho, P. S. G. (2019). A Teoria do Investimento em Criatividade de Robert Sternberg e Todd Lubart. In M. S. Neves-Pereira e D. de S. Fleith (orgs.), Teorias da Criatividade.
Fleith, D. de S.; Vilarinho-Rezende, D. e de Alencar, E. M. L. S. (2019). O Modelo Componencial de Criatividade de Teresa Amabile. In M. S. Neves-Pereira e D. de S. Fleith (orgs.), Teorias da Criatividade.
Fraser, N. (2007). Reconhecimento sem ética?. Lua Nova: Revista de Cultura e Política, n. 70, p. 101-138.
Fraser, N. (2002). Redistribuição ou reconhecimento? Classe e status na sociedade contemporânea. Conferência: Intersecções. Revista de Est. Interdisc, ano 4, no 1, p. 7-32, 2002.
Gavério, M. A. (2017). Nada sobre nós, sem nossos corpos! O local do corpo deficiente nos Disability Studies. Revista Argumentos, v. 14, n. 1. p. 95-117.
Glăveanu, V. P. e Neves-Pereira, M. S. (2019). A Psicologia Cultural da Criatividade. In M. S. Neves-Pereira e D. de S. Fleith (orgs.), Teorias da Criatividade.
Habib, I. G. (2020). Corpos Transformacionais: A facetrans no Brasil. Arte da Cena (Art on Stage), Goiânia, v. 6, n. 2, p. 68–106, 2020. https://doi.org/10.5216/ac.v6i2.64738.
Heckhausen, J. e Heckhausen, H. (2018). Motivation and Action: Introduction and Overview. In J. Heckhausen e H. Heckhausen (orgs.), Motivation and Action. Springer. https://doi.org/10.1007/978-3-319-65094-4.
Heckhausen, H. (2018). Historical Trends in Motivation Research. In J. Heckhausen e H. Heckhausen (orgs.), Motivation and Action. Springer. https://doi.org/10.1007/978-3-319-65094-4.
Hirano, L. F. K. (2019). Marcadores sociais das diferenças: rastreando a construção de um conceito em relação à abordagem interseccional e a associação de categorias. In L. F. K. Hirano, M. Acunã e B. F. Machado (orgs.), Marcadores sociais das diferenças: fluxos, trânsitos e intersecções. Goiânia: Editora Imprensa Universitária. Disponível em: < https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/1249/o/marcadores_sociais_das_diferencas.pdf>. Acesso em: 28 de abr. 2023.
Krenak, A. (2020). A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras.
Kuhl, J. (2018). Individual Differences in Self-Regulation. In J. Heckhausen e H. Heckhausen (orgs.), Motivation and Action. Springer. https://doi.org/10.1007/978-3-319-65094-4.
Marques, C. M.; Caron, L.; Da Cruz, A. A. (2020). Inclusão da criança com deficiência no ensino regular: olhar das famílias sobre a inclusão na escola. Práxis Educativa, v. 15, p. 1-18.
Marx, K., e Engels, F. (2007). A ideologia alemã. Rio de janeiro: Boitempo.
Naglieri, J. A. e Goldstein, S. (2015). Closing Comments: Intelligence and Intelligence Tests – Past, Present, and Future. In S. Goldstein, D. Princiotta e J. A. Naglieri (orgs.), Handbook of Intelligence - Evolutionary Theory, Historical Perspective, and Current Concepts. Springer. https://doi.org/10.1007/978-1-4939-1562-0.
Neves, A.; Ismerim, A.; Brito, B; da Costa, F. D.; dos Santos, L. R. P.; Senhorini, M.; Junior, N. da S.; Beer, P.; Bazzo, R.; Gonsalves, R.; Coelho, S. P. e Carnizelo, V. C. R. (2021). A psiquiatria sob o neoliberalismo: da clínica dos transtornos ao aprimoramento de si. In V. Safatle, D. da S. Junior e C. Dunker (orgs.), Neoliberalismo como gestão do sofrimento psíquico. Belo Horizonte: Autêntica.
Neves-Pereira, M. S. e Fleith, D. de S. (2019a). Introdução. In M. S. Neves-Pereira e D. de S. Fleith (orgs.), Teorias da Criatividade.
Neves-Pereira, M. S. e Fleith, D. de S. (2019b). O Modelo Sistêmico da Criatividade de Mihaly Csikszentmihalyi. In M. S. Neves-Pereira e D. de S. Fleith (orgs.), Teorias da Criatividade.
Oliveira, A. P. D. (2021). Identificação de altas habilidades/superdotação acadêmica, habilidades sociais, ansiedade e depressão em universitários.
Ortega, F. (2008). O sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade. Mana, 14, 477-509.
Renzulli, J. S. e Reis, S. M. (2021). The Three Ring Conception of Giftedness: A Change in Direction from Being Gifted to the Development of Gifted Behaviors. In R. J. Sternberg e D. Ambrose (orgs.), Conceptions of Giftedness and Talent. Palgrave Macmillan. https://doi.org/10.1007/978-3-030-56869-6.
Rheinberg, F. e Engeser, S. (2018). Intrinsic Motivation and Flow. In J. Heckhausen e H. Heckhausen (orgs.), Motivation and Action. Springer. https://doi.org/10.1007/978-3-319-65094-4.
Ribas, L. M. (2020). A (re)construção social da deficiência para a compreensão de uma diversidade humana. Revista Com Censo: Estudos Educacionais do Distrito Federal, 7(2), 216-225.
Ribeiro, F. B., Fadel, L. M., e Rover, A. J. (2023). Jogo como recurso de aprendizagem no processo de desenvolvimento da linguagem de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Perspectivas Em Diálogo: Revista De Educação E Sociedade, 10(22), 264-288. https://doi.org/10.55028/pdres.v10i22.16056.
Russo, F. A. I. (2023). EPPPÍStemologias Poéticas Políticas Indígenas. Wykakwara.org. Disponível: em <https://www.wykakwara.org/blog/categories/eppp%C3%ADs>. Acesso em: 28 de abr. 2023.
Russo, F. A. I. (2022). Redes de Conhecimento, de Violência & A Impressão de Categorias Sociais sobre os Corpos. Iea.usp.br. Disponível em: <http://www.iea.usp.br/pesquisa/catedras-e-convenios/catedra-oscar-sala/ensaios/redes-de-conhecimento-de-violencia-a-impressao-de-categorias-sociais-sobre-os-corpos-1>. Acesso em: 28 de abr. 2023.
Russo, F. A. I. (2016). Controvérsias: Neuronormatividade & Clivagem Social. Supereficientemental.com. Disponível em: <https://supereficientemental.com/2016/05/14/controversias-neuronormatividade-clivagem-social/>. Acesso em: 28 de abr. 2023.
Sak, U. (2021). The Fuzzy Conception of Giftedness. In R. J. Sternberg e D. Ambrose (orgs.), Conceptions of Giftedness and Talent. Palgrave Macmillan. https://doi.org/10.1007/978-3-030-56869-6.
Santos, G. M. (2021). Trabalho, corponormatividade e capacitismo: o sistema de cotas para pessoas com deficiência da Lei 8.213/91 à luz da teoria Crip. 42 f. Monografia (Graduação em Direito) - Escola de Direito, Turismo e Museologia, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto. Disponível em: <https://monografias.ufop.br/handle/35400000/3068>. Acesso em: 28 de abr. 2023.
Sassaki, R. K. (2003). Terminologia sobre deficiência na era da inclusão. Mídia e deficiência. Brasília: andi/Fundação banco do brasil, p. 160-165.
Scheffer, D. e Heckhausen, H. (2018). Trait Theories of Motivation. In J. Heckhausen e H. Heckhausen (orgs.), Motivation and Action. Springer. https://doi.org/10.1007/978-3-319-65094-4.
Shavinina, L. V. (2009). A New Approach to the Identification of Intellectually Gifted Individuals. In L. V. Shavinina (org.), International Handbook on Giftedness. Springer. https://doi.org/10.1007/978-1-4020-6162-2.
Silva, F. G. A. da. (2021). “Ser diferente é normal”: a expressividade do self de pessoas autistas em mídias sociais da internet e suas lutas por reconhecimento. 156 f., il. Dissertação (Mestrado em Sociologia) — Universidade de Brasília, Brasília. Disponível em: <https://repositorio.unb.br/handle/10482/42197>. Acesso em: 28 de abr. 2023.
Silva, M. C. (2019). A compreensão das pessoas com deficiência intelectual sobre o ambiente de trabalho. (Dissertação de Mestrado). Universidade de Brasília, Brasília-DF.
Silverman, L. K. (2009). The Measurement of Giftedness. In L. V. Shavinina (org.), International Handbook on Giftedness. Springer. https://doi.org/10.1007/978-1-4020-6162-2.
Sternberg, R. J., e Ambrose, D. (2021). Uniform Points of Agreement in Diverse Viewpoints on Giftedness and Talent. In R. J. Sternberg e D. Ambrose (orgs.), Conceptions of Giftedness and Talent. Palgrave Macmillan. https://doi.org/10.1007/978-3-030-56869-6.
Stiensmeier-Pelster, J. e Otterpohl, N. (2018). Motivation at School and University. In J. Heckhausen e H. Heckhausen (orgs.), Motivation and Action. Springer. https://doi.org/10.1007/978-3-319-65094-4.
Tunes, E. (2017). A defectologia de Vigotski - Uma contribuição inédita e revolucionária no campo da educação e da psicologia. In: KRAVTSOV, E. E.; et al. (Org.). VERESK - Estud. sobre a Perspect. Histórico-Cultural Vigotski. Brasília - DF: UNICEUB. v. 1. p. 75–85.
VanTassel-Baska, J. (2021). A Conception of Giftedness as Domain-Specific Learning: A Dynamism Fueled by Persistence and Passion. In R. J. Sternberg e D. Ambrose (orgs.), Conceptions of Giftedness and Talent. Palgrave Macmillan. https://doi.org/10.1007/978-3-030-56869-6.
Vigotski, L. S. (2011). A defectologia e o estudo do desenvolvimento e da educação da criança anormal. Educação e Pesquisa, (37)4, 861-870.
Vigotski, L. S. (2009). Imaginação e criação na infância. (Z. Prestes, trad.). Ática.
Vigotski, L.S. (2000). Manuscrito de 1929. Educação & Sociedade, 21(71). 21-44.
Vittorazzi, D. L. (2020). Alunos com altas habilidades/superdotação: uma revisão bibliográfica introdutória ao papel da escola no desenvolvimento de talentos. Research, Society and Development, 9(8).
Vygotski, L. S. (1997). Obras ecogidas V - Fundamentos da defectologia. Visor Distribuicones.
Wechsler, S. M. e Nakano, T. de C. (2019). Dimensões da Criatividade segundo Paul Torrance. In M. S. Neves-Pereira e D. de S. Fleith (orgs.), Teorias da Criatividade.